quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

IMPERIALISMO BRASILEIRO 3º TERCEIRO ANO C E.E.RUI BARBOSA 2013


“Imperialismo Brasileiro”: visões jornalísticas sobre a atuação brasileira na América do Sul e no mundo. por Samuel de Jesus

A reivindicação brasileira de ocupação de um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas foi o principal assunto da pauta de interesses brasileiros na visita do presidente Barack Obama ao Brasil. Em visita do presidente dos EUA, Barack Obama, ao Brasil, em 19 de março de 2011 a presidente do Brasil Dilma Rousseff, em seu discurso falou sobre a lentidão das reformas nas instituições multilaterais e defendeu reforma da governança em instituições como o Fundo Monetário Internacional – (FMI), no Banco Mundial, sobretudo a ampliação do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Certamente, não será um equivoco supor que ao ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, o Brasil se torne um global player, um ator global, o único na América do Sul a fazer parte do único órgão do sistema internacional capaz de adotar decisões obrigatórias para todos os Estados-membros da ONU. Sobretudo, não é exagero afirmar que essa condição daria ao Brasil um papel protagonista, não somente na América do Sul, mas na América Latina. Estaria consolidado como uma sub-hegemonia reconhecida em âmbito internacional. Politicamente ocuparia uma posição acima de Argentina e México.

Posturas como estas, adotadas pelo Brasil, embora sejam legitimas suscitam suspeitas dos países sul-americanos com relação a projeção continental brasileira. Por exemplo, setores jornalísticos e políticos de dentro e de fora do Brasil tem cunhado o termo “imperialismo brasileiro” termo conceitualmente inaplicável, mas que ganha força no imaginário político sul-americano.

A revista Le Monde Diplomatique Brasil em fevereiro de 2009 publicou um dossiê chamado “Imperialismo Brasileiro”. Pela primeira vez um órgão da imprensa brasileira faz um dossiê com esse título. Levanta discussões sobre a existência ou inexistência do “Imperialismo Brasileiro” na América do Sul. Segundo o editorial a ação das empresas brasileiras na América do Sul e a declarada intenção de o governo brasileiro liderar o Bloco Econômico Regional estão levando as organizações da sociedade civil e dos povos vizinhos a reclamar contra o que chamam de “Imperialismo Brasileiro”.

Sob o titulo O anão zangado a reportagem da revista Veja do ano de 2000 repercutiu as afirmações do então presidente Batle do Uruguai, de que o Brasil era responsável pela crise uruguaia, pois após a desvalorização do Real fez com que os moradores das cidades fronteiriças de Artigas, Rio Branco e Rivera passassem a fazer suas compras no lado brasileiro. Os produtos brasileiros custariam a metade do preço. Segundo a reportagem, O presidente Jorge Battle costuma dizer que Uruguai e Argentina devem unir-se para conter o “imperialismo brasileiro”. (Revista Veja, edição 1661 – 09/08/2000).

Segundo Charleaux (2011) os atritos entre as brasileiras Petrobrás, Norberto Odebrecht, Queiroz Galvão, Furnas, Itaipu e BNDES contra os governos da Bolívia, do Equador e do Paraguai nos anos 2000, desperta o temor de que o Brasil estivesse sofrendo uma onda de rejeição na América do Sul, eram seus exemplos a expulsão da mineradora brasileira EBX (Grupo Eike Batista – abril de 2006) da Bolívia pelo presidente Morales, assim como os casos de ameaças a agricultores brasiguaios na região central do Paraguai, as ocupações militares de instalações da Petrobrás na Bolívia (2006) e a expulsão de quatro representantes da Odebrecht no Equador (Setembro de 2006). Analistas afirmavam naquele momento que o clima, para o Brasil, tinha mudado e as tensões comerciais, se não fossem bem administradas, poderiam contaminar a política e a segurança da região. (CHARLEAUX, 2011).

O principal jornal paraguaio ABC COLOR afirma em seu editorial que El imperialismo brasileño seguirá intacto con el gobierno de Dilma que a vitória de Dilma Rousseff, afilhada política de Lula, representa a continuidade da política visando hegemonia na região. Segundo o jornal paraguaio, o Brasil continuará a submeter seus vizinhos, pois representa a mesma continuidade da política imperialista de Lula, pois não há nenhum interesse em desmontar o perverso “esquema imperialista” que tem origens no período colonial. A integração nada mais é do que uma estratégia brasileira a assegurar suas manobras hegemônicas que impossibilitam o progresso do Paraguai.

O ABC Color, (21-01-2007) em editorial utilizou um tom nacionalista para criticar a atuação do Brasil no caso da bi-nacional Itaipu. O editorial afirma que a desapiedada e tirânica exploração gera frustração e rancor na população paraguaia, o que poderia criar situações de violência física. O último editorial do ABC volta à carga: Injusta situação de Itaipú conduz à violência.

Essas são as contestações à atuação do Brasil no hemisfério sul. São episódios da História recente da América do Sul onde o Brasil ocupa uma posição central.

Essa oposição ao Brasil poderá sinalizar certa dificuldade do país em ser amplamente reconhecido pelos seus pares como um líder na América do Sul. Há muito ressentimento histórico e desconfianças no presente. É necessário considerar que a hegemonia brasileira requer o reconhecimento pelos seus pares. Seria preciso acreditar que a via de desenvolvimento brasileiro é a mais palpável, assim aliar os destinos da América do Sul aos do Brasil. As desconfianças são um obstáculo á liderança brasileira.

 

 

Fontes:

CACCIA BAVA, Augusto. Gigante pela própria natureza. In: Le Monde Diplomatic Brasil. Dossiê Imperialismo Brasileiro. Ano 02/ nº 19/ Fevereiro de 2009.

CHARLEAUX, João Paulo. O imperialismo brasileiro preocupa a região. Estadão.com.br 23/10/2008 http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20081023/not_imp264824,0.php

El imperialismo brasileño seguirá intacto con el gobierno de Dilma. ABC Color: 01/11/2010. Disponível em: http://www.abc.com.py/articulos/el-imperialismo-brasileno-seguira-intacto-con-el-gobierno-de-dilma-178977.html Extraído em: 10/04/2012

Revista Veja, edição 1661 – 09/08/2000.

Samuel de Jesus é doutor em Sociologia pelo Programa de Pós – Graduação em Sociologia pela Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista – FCL-UNESP/ Araraquara (sdjesu@yahoo.com.br