“Imperialismo Brasileiro”: visões
jornalísticas sobre a atuação brasileira na América do Sul e no mundo. por
Samuel de Jesus
A reivindicação brasileira de ocupação
de um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas foi o
principal assunto da pauta de interesses brasileiros na visita do presidente
Barack Obama ao Brasil. Em visita do presidente dos EUA, Barack Obama, ao
Brasil, em 19 de março de 2011 a presidente do Brasil Dilma Rousseff, em seu
discurso falou sobre a lentidão das reformas nas instituições multilaterais e
defendeu reforma da governança em instituições como o Fundo Monetário
Internacional – (FMI), no Banco Mundial, sobretudo a ampliação do Conselho de
Segurança das Nações Unidas.
Certamente, não será um equivoco supor
que ao ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas,
o Brasil se torne um global player, um ator global, o único na América do Sul a
fazer parte do único órgão do sistema internacional capaz de adotar decisões
obrigatórias para todos os Estados-membros da ONU. Sobretudo, não é exagero
afirmar que essa condição daria ao Brasil um papel protagonista, não somente na
América do Sul, mas na América Latina. Estaria consolidado como uma
sub-hegemonia reconhecida em âmbito internacional. Politicamente ocuparia uma
posição acima de Argentina e México.
Posturas como estas, adotadas pelo
Brasil, embora sejam legitimas suscitam suspeitas dos países sul-americanos com
relação a projeção continental brasileira. Por exemplo, setores jornalísticos e
políticos de dentro e de fora do Brasil tem cunhado o termo “imperialismo
brasileiro” termo conceitualmente inaplicável, mas que ganha força no imaginário
político sul-americano.
A revista Le Monde Diplomatique Brasil
em fevereiro de 2009 publicou um dossiê chamado “Imperialismo Brasileiro”. Pela
primeira vez um órgão da imprensa brasileira faz um dossiê com esse título.
Levanta discussões sobre a existência ou inexistência do “Imperialismo
Brasileiro” na América do Sul. Segundo o editorial a ação das empresas
brasileiras na América do Sul e a declarada intenção de o governo brasileiro
liderar o Bloco Econômico Regional estão levando as organizações da sociedade
civil e dos povos vizinhos a reclamar contra o que chamam de “Imperialismo
Brasileiro”.
Sob o titulo O anão zangado a
reportagem da revista Veja do ano de 2000 repercutiu as afirmações do então
presidente Batle do Uruguai, de que o Brasil era responsável pela crise
uruguaia, pois após a desvalorização do Real fez com que os moradores das cidades
fronteiriças de Artigas, Rio Branco e Rivera passassem a fazer suas compras no
lado brasileiro. Os produtos brasileiros custariam a metade do preço. Segundo a
reportagem, O presidente Jorge Battle costuma dizer que Uruguai e Argentina
devem unir-se para conter o “imperialismo brasileiro”. (Revista Veja, edição
1661 – 09/08/2000).
Segundo Charleaux (2011) os atritos
entre as brasileiras Petrobrás, Norberto Odebrecht, Queiroz Galvão, Furnas,
Itaipu e BNDES contra os governos da Bolívia, do Equador e do Paraguai nos anos
2000, desperta o temor de que o Brasil estivesse sofrendo uma onda de rejeição
na América do Sul, eram seus exemplos a expulsão da mineradora brasileira EBX
(Grupo Eike Batista – abril de 2006) da Bolívia pelo presidente Morales, assim como
os casos de ameaças a agricultores brasiguaios na região central do Paraguai,
as ocupações militares de instalações da Petrobrás na Bolívia (2006) e a
expulsão de quatro representantes da Odebrecht no Equador (Setembro de 2006).
Analistas afirmavam naquele momento que o clima, para o Brasil, tinha mudado e
as tensões comerciais, se não fossem bem administradas, poderiam contaminar a
política e a segurança da região. (CHARLEAUX, 2011).
O principal jornal paraguaio ABC COLOR
afirma em seu editorial que El imperialismo brasileño seguirá intacto con el
gobierno de Dilma que a vitória de Dilma Rousseff, afilhada política de Lula,
representa a continuidade da política visando hegemonia na região. Segundo o
jornal paraguaio, o Brasil continuará a submeter seus vizinhos, pois representa
a mesma continuidade da política imperialista de Lula, pois não há nenhum
interesse em desmontar o perverso “esquema imperialista” que tem origens no
período colonial. A integração nada mais é do que uma estratégia brasileira a assegurar
suas manobras hegemônicas que impossibilitam o progresso do Paraguai.
O ABC Color, (21-01-2007) em editorial
utilizou um tom nacionalista para criticar a atuação do Brasil no caso da
bi-nacional Itaipu. O editorial afirma que a desapiedada e tirânica exploração
gera frustração e rancor na população paraguaia, o que poderia criar situações
de violência física. O último editorial do ABC volta à carga: Injusta situação de
Itaipú conduz à violência.
Essas são as contestações à atuação do
Brasil no hemisfério sul. São episódios da História recente da América do Sul
onde o Brasil ocupa uma posição central.
Essa oposição ao Brasil poderá
sinalizar certa dificuldade do país em ser amplamente reconhecido pelos seus
pares como um líder na América do Sul. Há muito ressentimento histórico e
desconfianças no presente. É necessário considerar que a hegemonia brasileira
requer o reconhecimento pelos seus pares. Seria preciso acreditar que a via de
desenvolvimento brasileiro é a mais palpável, assim aliar os destinos da
América do Sul aos do Brasil. As desconfianças são um obstáculo á liderança
brasileira.
Fontes:
CACCIA BAVA, Augusto. Gigante pela
própria natureza. In: Le Monde Diplomatic Brasil. Dossiê Imperialismo
Brasileiro. Ano 02/ nº 19/ Fevereiro de 2009.
CHARLEAUX, João Paulo. O imperialismo
brasileiro preocupa a região. Estadão.com.br 23/10/2008
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20081023/not_imp264824,0.php
El imperialismo brasileño seguirá
intacto con el gobierno de Dilma. ABC Color: 01/11/2010. Disponível em:
http://www.abc.com.py/articulos/el-imperialismo-brasileno-seguira-intacto-con-el-gobierno-de-dilma-178977.html
Extraído em: 10/04/2012
Revista Veja, edição 1661 –
09/08/2000.
Samuel de Jesus é doutor em Sociologia
pelo Programa de Pós – Graduação em Sociologia pela Faculdade de Ciências e
Letras da Universidade Estadual Paulista – FCL-UNESP/ Araraquara
(sdjesu@yahoo.com.br