segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

9º ANOS ARLINDO ANDRADE GOMES REPUBLICA VELHA - AULA 02 - 2013

República Velha, República da Espada, presidência civil, Política dos governadores, café-com-leite, divisões, Aliança Liberal, coronelismo, Revolução de 30. Marechal Deodoro da Fonseca: primeiro presidente do Brasil Introdução O período que vai de 1889 a 1930 é conhecido como a República Velha. Este período da História do Brasil é marcado pelo domínio político das elites agrárias mineiras, paulistas e cariocas. O Brasil firmou-se como um país exportador de café, e a indústria deu um significativo salto. Na área social, várias revoltas e problemas sociais aconteceram nos quatro cantos do território brasileiro. A República da Espada (1889 a 1894) Proclamação da República (Praça da Aclimação, atual Praça da República, Rio de Janeiro, 15/11/1889) Em 15 de novembro de 1889, aconteceu a Proclamação da República, liderada pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Nos cinco anos iniciais, o Brasil foi governado por militares. Deodoro da Fonseca, tornou-se Chefe do Governo Provisório. Em 1891, renunciou e quem assumiu foi o vice-presidente Floriano Peixoto. O militar Floriano, em seu governo, intensificou a repressão aos que ainda davam apoio à monarquia. A Constituição de 1891 ( Primeira Constituição Republicana) Após o início da República havia a necessidade da elaboração de uma nova Constituição, pois a antiga ainda seguia os ideais da monarquia. A constituição de 1891, garantiu alguns avanços políticos, embora apresentasse algumas limitações, pois representava os interesses das elites agrárias do pais. A nova constituição implantou o voto universal para os cidadãos ( mulheres, analfabetos, militares de baixa patente ficavam de fora ). A constituição instituiu o presidencialismo e o voto aberto. República das Oligarquias O período que vai de 1894 a 1930 foi marcado pelo governo de presidentes civis, ligados ao setor agrário. Estes políticos saiam dos seguintes partidos: Partido Republicano Paulista (PRP) e Partido Republicano Mineiro (PRM). Estes dois partidos controlavam as eleições, mantendo-se no poder de maneira alternada. Contavam com o apoio da elite agrária do país. Dominando o poder, estes presidentes implementaram políticas que beneficiaram o setor agrário do país, principalmente, os fazendeiros de café do oeste paulista. Surgiu neste período o tenentismo, que foi um movimento de caráter político-militar, liderado por tenentes, que faziam oposição ao governo oligárquico. Defendiam a moralidade política e mudanças no sistema eleitoral (implantação do voto secreto) e transformações no ensino público do país. A Coluna Prestes e a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana foram dois exemplos do movimento tenentista. Política do Café-com-Leite A maioria dos presidentes desta época eram políticos de Minas Gerais e São Paulo. Estes dois estados eram os mais ricos da nação e, por isso, dominavam o cenário político da república. Saídos das elites mineiras e paulistas, os presidentes acabavam favorecendo sempre o setor agrícola, principalmente do café (paulista) e do leite (mineiro). A política do café-com-leite sofreu duras críticas de empresários ligados à indústria, que estava em expansão neste período. Se por um lado a política do café-com-leite privilegiou e favoreceu o crescimento da agricultura e da pecuária na região Sudeste, por outro, acabou provocando um abandono das outras regiões do país. As regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste ganharam pouca atenção destes políticos e tiveram seus problemas sociais agravados. Política dos Governadores Montada no governo do presidente paulista Campos Salles, esta política visava manter no poder as oligarquias. Em suma, era uma troca de favores políticos entre governadores e presidente. O presidente apoiava os candidatos dos partidos governistas nos estados, enquanto estes políticos davam suporte a candidatura presidencial e também durante a época do governo. O coronelismo A figura do "coronel" era muito comum durante os anos iniciais da República, principalmente nas regiões do interior do Brasil. O coronel era um grande fazendeiro que utilizava seu poder econômico para garantir a eleição dos candidatos que apoiava. Era usado o voto de cabresto, em que o coronel (fazendeiro) obrigava e usava até mesmo a violência para que os eleitores de seu "curral eleitoral" votassem nos candidatos apoiados por ele. Como o voto era aberto, os eleitores eram pressionados e fiscalizados por capangas do coronel, para que votasse nos candidatos indicados. O coronel também utilizava outros "recursos" para conseguir seus objetivos políticos, tais como: compra de votos, votos fantasmas, troca de favores, fraudes eleitorais e violência. O Convênio de Taubaté Essa foi uma fórmula encontrada pelo governo republicano para beneficiar os cafeicultores em momentos de crise. Quando o preço do café abaixava muito, o governo federal comprava o excedente de café e estocava. Esperava-se a alta do preço do café e então os estoques eram liberados. Esta política mantinha o preço do café, principal produto de exportação, sempre em alta e garantia os lucros dos fazendeiros de café. A crise da República Velha e o Golpe de 1930 Em 1930 ocorreriam eleições para presidência e, de acordo com a política do café-com-leite, era a vez de assumir um político mineiro do PRM. Porém, o Partido Republicano Paulista do presidente Washington Luís indicou um político paulista, Julio Prestes, a sucessão, rompendo com o café-com-leite. Descontente, o PRM junta-se com políticos da Paraíba e do Rio Grande do Sul (forma-se a Aliança Liberal ) para lançar a presidência o gaúcho Getúlio Vargas. Júlio Prestes sai vencedor nas eleições de abril de 1930, deixando descontes os políticos da Aliança Liberal, que alegam fraudes eleitorais. Liderados por Getúlio Vargas, políticos da Aliança Liberal e militares descontentes, provocam a Revolução de 1930. É o fim da República Velha e início da Era Vargas. Galeria dos Presidentes da República Velha: Marechal Deodoro da Fonseca (15/11/1889 a 23/11/1891), Marechal Floriano Peixoto (23/11/1891 a 15/11/1894), Prudente Moraes (15/11/1894 a 15/11/1898), Campos Salles (15/11/1898 a 15/11/1902) , Rodrigues Alves (15/11/1902 a 15/11/1906), Affonso Penna (15/11/1906 a 14/06/1909), Nilo Peçanha (14/06/1909 a 15/11/1910), Marechal Hermes da Fonseca (15/11/1910 a 15/11/1914), Wenceslau Bráz (15/11/1914 a 15/11/1918), Delfim Moreira da Costa Ribeiro (15/11/1918 a 27/07/1919), Epitácio Pessoa (28/07/1919 a 15/11/1922), Artur Bernardes (15/11/1922 a 15/11/1926), Washington Luiz (15/11/1926 a 24/10/1930). - O período da História do Brasil conhecido como Nova República teve início em 1985, com o fim da Ditadura Militar e início do processo de redemocratização. Este período da História do Brasil dura até os dias atuais.

2º ANOS -AULA 03- DIVERSIDADE E RELATIVISMO CULTURAL E.E. RUI BARBOSA 2013- SOCIOLOGIA

Sociedade, diversidade cultural e relativismo moral Sociedade, diversidade cultural e relativismo moral A vida humana é convivência, é um "conviver". Se uma sociedade sem indivíduos e relações interindividuais é uma ficção o mesmo poderemos dizer do indivíduo humano isolado. Robinson Crusoé, perdido numa ilha deserta, devido a um naufrágio, manifesta no seu comportamento a presença de técnicas, atitudes, habilidades e crenças que aprendeu na sua convivência social, isto é, fisicamente separado de qualquer sociedade continua a "conviver" com ela desejando regressar ao convívio efectivo. Embora não devamos considerar o ser humano como o simples resultado da educação e da socialização, é inegável que, por definição, o homem é um ser a educar, a introduzir num determinado contexto cultural. "Educar" é um termo que vem do latim e-duce que significa conduzir para fora de, fazer sair de ... A bagagem biológica que herdámos ao nascer, o nosso equipamento natural ou biológico é insuficiente para que nos tornemos seres aptos a desempenhos e atitudes especificamente humanos. A cultura é o conjunto de valores, normas, ideias, crenças, conhecimentos, instrumentos técnicos, instituições, produções artísticas, costumes, etc., que os homens, vivendo numa sociedade determinada e em relação ou não com outras, criaram ao longo da história. É no seio de uma dada cultura que nos formamos como homens participando e assimilando diversos conteúdos culturais que condicionarão a nossa forma de viver. Por outro lado, é, normalmente, no interior da cultura que nos formou que contribuímos para o seu desenvolvimento e modificação, dado que o indivíduo humano é simultaneamente capacidade de assimilação ("filho do seu tempo") e criatividade. A cultura não é algo estático: os conteúdos culturais acima referidos são o fruto de um "cultivo" levado a cabo por indivíduos que não se limitam a receber o que lhes é dado pela sociedade, mas também possuem a capacidade de dar. A cultura será assim a actividade formativa do ser humano, o exercício e aperfeiçoamento de faculdades humanas. Permite a aquisição de conhecimentos e capacidades que permitem a compreensão de certas formas de agir, sentir e pensar. Torna possível a integração social, a construção de uma personalidade própria, o respeito por outras culturas, a contestação de aspectos daquela em que fomos educados, etc. 1.Diversidade cultural, etnocentrismo e relativismo É norma socialmente reconhecida entre nós que devemos cuidar dos nossos pais e de familiares quando atingem uma idade avançada; os Esquimós deixam-nos morrer de fome e de frio Nessas mesmas condições. Algumas culturas permitem práticas homossexuais enquanto outras as condenam (pena de morte na Arábia Saudita). Em vários países muçulmanos a poligamia é uma prática normal, ao passo que nas sociedades cristãs ela é vista como imoral e ilegal. Certas tribos da Nova Guiné consideram que roubar é moralmente correcto; a maior parte das sociedades condenam esse acto. O infanticídio é moralmente repelente para a maior parte das culturas, mas algumas ainda o praticam. Em certos países a pena de morte vigora, ao passo que noutras foi abolida; algumas tribos do deserto consideravam um dever sagrado matar após terríveis torturas um membro qualquer da tribo a que pertenciam os assassinos de um dos seus. Centenas de páginas seriam insuficientes para documentarmos a relatividade dos padrões culturais, a grande diversidade de normas e práticas culturais que existem actualmente e também as que existiram. Até há bem pouco tempo muitas culturas e sociedades viviam praticamente fechadas sobre si mesmas, desconhecendo-se mutuamente e desenvolvendo bizarras crenças acerca das outras. Os europeus que viajaram para as Américas no século XVI acreditavam que iam encontrar gigantes, amazonas e pigmeus, a Fonte da Eterna Juventude, mulheres cujos corpos nunca envelheciam e homens que 'viviam centenas de anos. Os índios americanos foram inicialmente olhados como criaturas selvagens que tinham mais afinidades com os animais do que com os seres humanos. Paracelso, nunca lá tendo ido, descreveu o continente norte-americano povoado por criaturas que eram meio homens meio bestas. Julgava-se que os índios, os nativos desse continente, eram seres sem alma nascidos espontaneamente das profundezas da terra. O bispo de Santa Marta, na Colômbia, descrevia os indígenas como homens selvagens das florestas e não homens dotados de uma alma racional, motivo pelo qual não podiam assimilar nenhuma doutrina cristã, nenhum ensinamento, nem adquirir a virtude. Anthony Giddens, Sociology, Polity Press, Cambridge, p. 30 Durante o século XIX os missionários cristãos em África e nas ilhas do Pacífico forçaram várias tribos nativas a mudar os seus padrões de comportamento. Chocados com a nudez pública, a poligamia e o trabalho no dia do Senhor, decidiram, paternalistas, reformar o modo de vida dos "pagãos". Proibiram os homens de ter mais de uma mulher, instituíram o sábado como dia de descanso e vestiram toda a gente. Estas alterações culturais, impostas a pessoas que dificilmente compreendiam a nova religião, mas que tinham de se submeter ao poder do homem branco, revelaram-se, em muitos casos, nocivas: criaram mal-estar social, desespero entre as mulheres e orfandade entre as crianças. Se bem que o complexo de superioridade cultural não fosse um exclusivo dos Europeus (os chineses do século XVIII consideraram desinteressantes e bárbaros os seus visitantes ingleses), o domínio tecnológico, científico e militar da Europa, bem vincado a partir das Descobertas, fez com que os Europeus julgassem os próprios padrões, valores e realizações culturais como superiores. Povos pertencentes a sociedades diferentes foram, na sua grande maioria, desqualificados como inferiores, bárbaros e selvagens. O etnocentrismo é a atitude característica de quem só reconhece legitimidade e validade às normas e valores vigentes na sua cultura ou sociedade. Tem a sua origem na tendência de julgarmos as realizações culturais de outros povos a partir dos nossos próprios padrões culturais, pelo que não é de admirar que consideremos o nosso modo de vida como preferível e superior a todos os outros. Os valores da sociedade a que pertencemos são, na atitude etnocêntrica, declarados como valores universalizáveis, aplicáveis a todos os homens, ou seja, dada a sua "superioridade" devem ser seguidos por todas as outras sociedades e culturas. Adoptando esta perspectiva, não é de estranhar que alguns povos tendam a intitular-se os únicos legítimos e verdadeiros representantes da espécie humana. Quais os perigos da atitude etnocêntrica? A negação da diversidade cultural humana (como se uma só cor fosse preferível ao arco-íris) e, sobretudo os crimes, massacres e extermínios que a conjugação dessa atitude ilegítima com ambições económicas provocou ao longo da História. Depois da Segunda Guerra Mundial e do extermínio de milhões de indivíduos pertencentes a povos que pretensos representantes de valores culturais superiores definiram como sub-humanos, a antropologia cultural promoveu a abertura das mentalidades, a compreensão e o respeito pelas normas e valores das outras culturas. Mensagens fundamentais: a) Em todas as culturas encontramos valores positivos e valores negativos; b) Se certas normas e práticas nos parecem absurdas devemos procurar o seu sentido integrando-as na totalidade cultural sem a qual são incompreensíveis; c) O conhecimento metódico e descomplexado de culturas diferentes da nossa permite-nos compreender o que há de arbitrário nalguns dos nossos costumes, torna legítimo optar, por exemplo, por orientações religiosas que não aquelas em que fomos educados, questionar determinados valores vigentes, propor novos critérios de valoração das relações sociais, com a natureza, etc. A defesa legítima da diversidade cultural ' conduziu, contudo, muitos antropólogos actuais a exagerarem a diversidade das culturas e das socíedades: não existiriam valores universais ou normas de comportamentos válidos independentemente do tempo e do espaço. As valorações são relativas a um determinado contexto cultural, pelo que julgar as práticas de uma certa sociedade, não existindo escala de valores universalmente aceite, seria avaliá-los em função dos valores que vigoram na nossa cultura. Cairíamos de novo, segundo a maioria dos antropólogos, nessa atitude dogmática que é o etnocentrismo. 2.O Relativismo Moral O relativismo moral é uma forma específica e particular de expressão do relativismo cultural. Segundo aquele não há normas morais universalmente válidas, sendo a validade de cada norma relativa à sociedade e à cultura que a impõe. O relativismo moral é a doutrina segundo a qual a moralidade e a imoralidade das acções variam de sociedade para sociedade, não havendo, assim, normas morais absolutas obrigando igualmente todos os homens, ou seja, que devam ser seguidas por todos onde quer que vivam. Por conseguinte, o relativismo moral sustenta que avaliar se é moralmente correcto um indivíduo agir de um certo modo depende ou é relativo à sociedade a que pertence. John Ladd, Ethical relativism, Wadsworth Publishing Company, Belmont, California, p. 25 Os partidários do relativismo moral, da convencional idade das normas morais, argumentam que esta doutrina promove e estimula a tolerância entre os seres humanos. O argumento é, aproximadamente, o seguinte: a) As normas morais são relativas à cultura e à sociedade que as institui; b) Uma vez que não há normas morais absolutas ou universalmente aceites, não possuímos qualquer base objectiva para criticar a moralidade desta ou daquela cultura; c) logo, devemos ser tolerantes com as práticas morais reconhecidas como válidas por outras sociedades e culturas. Na perspectiva relativista basta uma sociedade instituir como "normal" um certo conjunto de práticas para que tenhamos de as respeitar porque é intolerante e ilegítimo julgar tradições e normas de comportamento que nos são culturalmente estranhas. Secada colectividade ou, melhor dizendo, se cada comunidade se define pelos valores e normas que a identificam (que lhe são próprios) e não existem valores e normas válidos para toda a humanidade, como condenar actos objectivamente repulsivos e bárbaros? Como defender os indivíduos de sociedades diferentes da nossa da prepotência dos seus governos, da tortura? Se condeno a excisão, praticada em vários países africanos e na Europa, aceitarei que me digam que a minha indignação é sinal de intolerância e de incompreensão dos valores de dada cultura? o relativismo moral revela-se igualmente problemático quando analisamos no interior de uma dada sociedade a relação dos indivíduos com as normas em vigor. Apesar da opressão e das severas limitações à liberdade de expressão, mulheres e homens manifestam-se contra a excisão denunciando-a como prática que mutila o corpo e põe em risco a vida de quem a sofre; na Arábia Saudita e em outros países muçulmanos há, sob forma clandestina ou semiclandestina, movimentos de protesto contra o estatuto subalterno das mulheres. Não significa essa revolta que há valores ou normas morais que ultrapassam os limites de toda e qualquer cultura (valores universais ou transculturais) e em nome dos quais criticamos, formulamos juízos morais, reivindicamos, etc.? O relativismo moral argumenta que ninguém pode legitimamente dizer que certas práticas de determinadas culturas e sociedades são moralmente reprováveis porque, na sua perspectiva, não há princípios morais objectivos a partir dos quais pudéssemos julgar imparcialmente. Em si mesmas, não há normas e práticas moralmente correctas e moralmente incorrectas e nenhuma cultura tem o direito de se arvorar em juiz de outra. Há, contudo, objecções a fazer. Não teremos o direito de acreditar que as nossas normas e práticas morais são melhores - embora não haja certezas quanto a isso - do que as de outras culturas? Será impossível que uma cultura tenha percepções morais - sobre o bem e sobre o mal – condenáveis? EXERCÍCIOS 1.Analise a validade do seguinte argumento: "Se houvesse normas morais objectivas ou universais, válidas em si mesmas, todas as pessoas as reconheceriam e não se valoraria de modos distintos uma mesma acção. Ora, encontraremos sempre duas culturas que a valorem de modo diferente. Logo, não existem normas morais objectivas." 2."A sociedade não castiga o homicídio porque este seja imoral e ilegal, mas o homicídio é imoral e ilegal porque a sociedade o castiga." Esta afirmação é própria de um partidário ou de um adversário do relativismo? 3.Pode um relativista afirmar as seguintes proposições sem se contradizer? a) Nenhum povo tem o direito de impor os seus valores e normas morais a outros povos, uma vez que não há normas morais objectivas, válidas em si mesmas. b) É por respeitar acima de tudo a tolerância que sou um partidário do relativismo moral. Quem acredita em valores morais absolutos nunca será tolerante. c) A discriminação racial, onde quer que aconteça, é profundamente injusta. d) Os valores próprios de uma cultura são tão válidos como os de qualquer outra. É prejudicial e nociva a ideia de que há normas e valores objectivos que devem ser respeitados por todos os homens. e) A Amnistia Internacional é uma organização regida por princípios próprios do relativismo moral. Adaptado de James Fishkin, Beyond Subjective Morality, Yale University Press, p. 112. 4. Leia atentamente o seguinte texto: "O relativismo moral é inaceitável na sua pretensão de que não existem princípios morais universais {. ..]. O que parece variar de umas culturas para outras é a aplicação dos princípios, não necessariamente os próprios princípios (valores). Por exemplo, em algumas sociedades facilita-se ou provoca-se a morte dos idosos; na nossa cultura faz-se tudo o que é possível para prolongar a sua vida. Contudo, tudo o indica, em ambos os casos age-se de acordo com os mesmos valores ou princípios (o amor e o respeito pelos idosos e pela vida em geral). Por outro lado, se não se admite a possibilidade de haver princípios morais universais em nome de quê se verifica a generalizada condenação dos genocídios e da tortura? Que razões haveria para abolir a escravatura e as discriminações raciais? Que fundamento teríamos para proclamar uma "Declaração Universal dos Direitos do Homem?" César Tejedor Campomanes - Introduccióna la Filosofia, SIM, Madrid, p. 191 a) Que tese defende o texto? b) A que argumentos recorre o autor? Parecem - lhe aceitáveis? 5. Começaremos por ouvir uma figura ficcional chamada Ana Relativista que nos explicará a sua crença no relativismo cultural. Ao ler o que se segue, ou explicações semelhantes, propomos que reflicta até que ponto esta é uma perspectiva plausível e se se harmoniza com o seu ponto de vista. Ana Relativista O meu nome é Ana Relativista. Aderi ao relativismo cultural ao compreender a profunda base cultural que suporta a moralidade. Fui educada para acreditar que a moral se refere a factos objectivos. Tal como a neve é branca, também o infanticídio é um mal. Mas as atitudes variam em função do espaço e do tempo. As normas que aprendi são as normas da minha própria sociedade; outras sociedades possuem diferentes normas. A moral é uma construção social. Tal como as sociedades criam diversos estilos culinários e de vestuário, também criam códigos morais distintos. Aprendi-o ao estudar antropologia e vivi-o no México quando estive lá a estudar. Considera a minha crença de que o infanticídio é um mal. Ensinaram-me isto como se se tratasse de um padrão objectivo. Mas não é; é apenas aquilo que defende a sociedade a que pertenço. Quando afirmo "O infanticídio é um mal" quero dizer que a minha sociedade desaprova essa prática e nada mais. Para os antigos romanos, por exemplo, o infanticídio era um bem. Não tem sentido perguntar qual das perspectivas é "correcta ", Cada um dos pontos de vista é relativo à sua cultura e o nosso é relativo à nossa. Não existem verdades objectivas acerca do bem ou do mal. Quando dizemos o contrário, limitamo-nos a impor as nossas atitudes culturalmente adquiridas como se se tratasse de "verdades objectivas". "Mal" é um termo relativo. Deixem-me explicar o que isto significa. Quero dizer que nada está absolutamente "à esquerda", mas apenas "à esquerda deste ou daquele" objecto. Do mesmo modo, nada é um mal em absoluto, mas apenas um mal nesta ou naquela sociedade particular. O infanticídio pode ser um mal numa sociedade e um bem noutra. Podemos expressar esta perspectiva claramente através de uma definição: "X é um bem" significa "a maioria (na sociedade em questão) aprova X". Outros conceitos morais, como "mal" ou "correcto", podem ser definidos da mesma forma. Note-se ainda a referência a uma sociedade específica. A menos que o contrário seja especificado, a sociedade em questão é aquela a que pertence a pessoa que formula o juízo. Quando afirmo "Hitler agiu erradamente" quero de facto dizer "de acordo com os padrões da minha sociedade". O mito da objectividade afirma que as coisas podem ser um bem ou um mal de uma forma absoluta - e não relativamente a esta ou àquela cultura. Mas como poderemos saber o que é o bem ou o mal em termos absolutos? Como poderíamos argumentar a favor desta ideia sem pressupor os padrões da nossa própria sociedade? As pessoas que falam do bem e do mal de forma absoluta limitam-se a absolutizar as normas que vigoram na sua própria sociedade. Consideram as normas que lhes foram ensinadas como factos objectivos. Essas pessoas necessitam de estudar antropologia ou viver algum tempo numa cultura diferente. Quando adoptei o relativismo cultural tornei--me mais receptiva a aceitar outras culturas. Como muitos outros estudantes, eu partilhava a típica atitude "nós estamos certos e eles errados". Lutei arduamente contra isto. Apercebi-me de que o outro lado não está "errado", mas que é apenas "diferente". Temos, por isso, de considerar os outros a partir do seu próprio ponto de vista; ao criticá-los, limitamo-nos a impor-lhes padrões que a nossa sociedade construiu. Nós, os relativistas culturais, somos mais tolerantes. Objecções a Ana Relativista «Como responder à diversidade cultural entre sociedades? Ana rejeita a atitude dogmática do género "Nós estamos certos e eles errados". Percebe a necessidade de compreender as sociedades. Estas são ideias positivas. Mas, em seguida, afirma também que nenhum dos lados pode estar errado. Isto limita a nossa capacidade para aprender. Se a nossa cultura não pode estar errada, não pode aprender com os seus próprios erros. Compreender as normas de outras culturas não permitirá ajudar-nos a corrigir os erros das nossas próprias sociedades. Ana rejeita a crença em valores objectivos e chama-lhe "o mito da objectividade ". Nesta perspectiva, as coisas são um bem ou um mal apenas relativamente a esta ou àquela cultura. Não são Mas serão os valores objectivos realmente um "mito"? O ponto de vista objectivista afirma que algumas coisas são objectivamente um bem ou um mal, independentemente do que possamos pensar ou sentir; contudo, esta perspectiva está preparada para aceitar algum relativismo noutras áreas. Muitas regras sociais são claramente determinadas por padrões locais: • Regra local: "É proibido virar à direita com a luz vermelha. " • Regra de etiqueta local: "Use o garfo apenas com a mão esquerda. " É necessário respeitar este género de regras locais; ao proceder de outra maneira podemos ferir as pessoas, quer porque chocamos contra os seus carros quer porque ferimos os seus sentimentos. Na concepção objectivista, a exigência de não magoar as outras pessoas é uma regra de um género diferente - uma regra moral - não determinada por costumes locais. Considera-se que as regras morais possuem mais autoridade do que as leis governamentais ou as regras de etiqueta; são regras que qualquer sociedade deve respeitar se quiser sobreviver e prosperar. Se visitamos um lugar cujos padrões permitem magoar as pessoas por razões triviais, então esses padrões estão errados. O relativismo cultural disputa esta afirmação. A ideia é que os padrões locais são determinantes, ainda que se trate de princípios morais básicos; assim, ferir outras pessoas por motivos triviais é um bem se esta atitude for socialmente aprovada. Respeitar as diferenças culturais não nos transforma em relativistas culturais. Este é um falso estereótipo. O que caracteriza o relativismo cultural é a afirmação de que tudo o que é socialmente aprovado é um bem.» Harry Gensler, Ética e Relativismo Cultural,Crítica. no.sapo. pt