Karl
Marx e o Materialismo Histórico-Dialético
Por João Bonfim Joia Pereira e Fatima Aparecida de
Souza Francioli
De acordo com Spirkine; Yakhot
(1975a) é comum encontrarmos pessoas que acreditam que o materialista é a
pessoa que se preocupa em acumular bens materiais e que idealista é a pessoa
que luta por uma causa com objetivos que beneficie todos na sociedade. Para
esses autores, ambas as interpretações estão equivocadas, pois o materialismo
procura apoio na ciência, visto que a ciência nos proporciona a sabedoria que
necessitamos para ver o mundo como ele realmente é. O materialismo também
defende a superação da exploração da força de trabalho e das desigualdades
sociais fixadas na sociedade capitalista. Em contrapartida, o idealismo alemão
desenvolvido por Hegel (1770-1831), nas primeiras décadas do século XIX,
considera que o homem se desenvolve por si mesmo, ou seja, a consciência humana
independe da natureza, mas sim das ideias. Desta forma o idealismo hegeliano
não levava em consideração as origens materiais para o desenvolvimento da
consciência humana, diferente do materialismo que acredita que o homem se
desenvolve na medida em que interage com a natureza e modifica os meios de
produção material.
Na perspectiva materialista, é
preciso conhecer a sociedade e seus aspectos para trabalhar na superação das
desigualdades sociais. Nesse sentido, o materialismo considera que na sociedade
tudo está ligado à natureza, visto que o homem age sobre ela para produzir seus
materiais de consumo, no entanto, não somos produtos da natureza, mas sim da
história humana. Por mais que exista esta ligação entre o homem e a natureza
suas histórias são distintas e sobre isto Spirkine; Yakhot (1975b, p. 9)
afirmam que “A história da sociedade distingue-se da história da natureza, em
primeiro lugar, pelo facto de que a primeira é feita pelos homens enquanto
ninguém faz a segunda”. Essa citação esclarece que na medida em que o homem
transforma a natureza para fabricar seus materiais de consumo, modifica-se a si
mesmo porque suas necessidades também mudam. Partindo desses princípios,
podemos considerar que o materialismo histórico é a ciência filosófica que
busca compreender a sociedade humana, estudando a evolução desta sociedade e
como os homens a utilizam. Sobre isto Spirkine; Yakhot afirmam:
É
o materialismo histórico, uma das componentes fundamentais da filosofia
marxista-leninista, que elabora a teoria geral e o método de conhecimento da
sociedade humana como sistema, estuda as leis da sua evolução e a sua
utilização pelos homens. (SPIRKINE; YAKHOT, 1975b, p. 10, grifos do autor).
Para Spirkine; Yakhot (1975b) a
essência da concepção materialista da história é o trabalho, visto que é por
meio do trabalho que o homem produz os materiais necessários para sua
sobrevivência. O homem faz sua história à medida que modifica os meios de
produção e transforma a natureza, o homem evolui, muda a sociedade, trava
combates.
Nas exatas palavras de Spirkine;
Yakhot (1975b, p.13):
[...]
O Marxismo mostrou que os homens faziam eles próprios sua história, que nenhuma
força sobrenatural se dissimulava atrás do processo histórico. A história,
escrevem os fundadores do marxismo, não fez nada, “não possui riqueza enorme”,
não “trava combates”! É pelo contrário o homem, o homem real e vivo que faz
tudo isso, possui tudo isso e trava todos os combates; não é a “história” que
se serve do homem como meio para realidade – como se ela fosse uma pessoa à
parte –, os seus fins próprios; ela não é mais que a actividade do homem na
produção de seus objectivos.
Essa passagem nos dá a ideia de
que a história nada mais é do que o resultado, as consequências e as mudanças
geradas pelas ações do homem sobre a natureza e sobre os próprios homens. À
medida que o homem modifica suas necessidades materiais, sua maneira de pensar
e agir, ele gera mudanças no seu ser social que irá resultar em outras mudanças
na forma de organização da sociedade, são essas mudanças que darão origem a
história. Quando se fala em sociedade, para compreendê-la, é preciso buscar
conhecer quem à compõe, ou seja, o ser humano como o agente que desenvolve a
sociedade. Logo é necessário levar em consideração os homens, visto que os
homens são os agentes de transformação histórica e social. Em virtude disso é
possível considerar que:
Para compreender a marcha da
história, não se deve tomar como ponto de partida a atividade do indivíduo, mas
as ações das massas populares, das classes sociais. É o povo que sempre
trabalhou e que trabalha ainda hoje. Desse modo, são as massas as verdadeiras
criadoras da história, e não as forças celestes misteriosas ou os reis, os
capitães e os legisladores. (SPIRKINE; YAKHOT, 1975b, p. 14)
Não restam dúvidas que são os
trabalhadores que lutam para que as mudanças sociais e econômicas aconteçam. Na
maioria das vezes lutam de forma inconsciente, mas são eles que estão
trabalhando para manter o equilíbrio econômico da sociedade em que estão inseridos.
Portanto, ao se analisar um fato histórico deve-se ater à classe operária como
peça principal para o processo de transiçãode um momento histórico a outro. Por
essas razões é que Spirkine; Yakhot (1975b) reafirmam que não se pode ignorar a
atividade dos homens, visto que são eles que constituem os processos
históricos.
Como é amplamente conhecido, Marx
e Engels desenvolveram a teoria do materialismo histórico e dialético,
empregando um materialismo que unisse dialeticamente a realidade objetiva, os
sujeitos e suas modificações. Esse entendimento sustenta que “[...] a dialética
é a ciência das leis mais gerais do movimento e do desenvolvimento da natureza,
da sociedade e do pensamento, a ciência da ligação universal de todos os
fenômenos que existem no mundo” (SPIRKINE; YAKHOT, 1975a, p. 20). Em outras
palavras, a dialética é o estudo das mudanças que ocorrem na natureza, no homem
e na sociedade no decorrer da história. Esta não vê o mundo como um objeto
fixo, mas sim tem uma visão de que tudo está em constante movimento e
transformação.
Na concepção de Marx, como na de
Hegel, a Dialética compreende o que hoje se chama de teoria do conhecimento ou
gnoseologia, que deve igualmente considerar seu objeto do ponto de vista
histórico, estudando e generalizando a origem e o desenvolvimento do
conhecimento, a passagem da ignorância ao conhecimento. (LENIN, 1979, p.20)
Desta forma o processo de
compreensão do conhecimento é voltado para a visão histórica do mesmo,
considerando as mudanças e transformações que o mesmo passou, ou seja, para a
dialética nada é permanente tudo está em constante transformação. Segundo Lênin
(1979) o materialismo dialético busca compreender as mudanças do mundo a partir
da realidade material, utilizando os critérios de análise da dialética para
assim alcançar o conhecimento mais abrangente e detalhado da evolução. A
dialética em uma concepção materialista não se limita em analisar e compreender
as transformações e mudanças, mas sim busca compreendê-las a partir da
realidade em que aconteceram.
O materialismo dialético, de base
materialista, procura, por meio de um método dialético, compreender as
transformações sociais que ocorrem na sociedade, sendo este inseparável do
materialismo histórico. A partir do momento que ocorre uma transformação ou
mudança também se transforma e muda a história por meio da ação do homem sobre
a natureza. Sendo assim, o materialismo histórico e dialético é um método de
análise do desenvolvimento humano, levando em consideração que o homem se
desenvolve à medida que age e transforma a natureza e neste processo também se
modifica.
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