O positivismo e a teoria sociológica de Auguste Comte
Por Edson Elias
Auguste
Comte
(1798-1857) é um pensador inteiramente conservador, ou seja, um defensor
sem ambiguidades da nova sociedade. Sua motivação repousa no estado de
“anarquia” e “desordem” de sua época, a França do século XIX, período marcado
por um profundo caos social. E ao se deparar com essa realidade se propõe a
pensar a sociedade de forma científica com o objetivo de restabelecer a
coesão e equilíbrio social, mas para isso é necessário ordem.
Positivismo: Segundo Viana
(2006), ele é “uma doutrina que postula entre outras coisas, a necessidade de
utilizar o modelo das ciências naturais e aplica-los ao estudo da sociedade”.
Segundo Simon (2010), “a palavra designa a doutrina e a escola fundada por
Auguste Comte, no século XIX. Seu positivismo compreende não só uma teoria da
ciência, mas também, e simultaneamente, uma determinada concepção da história e
uma proposta de reforma da sociedade e da religião”. Costa (2005), já diz que
“o nome ‘positivismo’ tem sua origem no adjetivo ‘positivo’, que significa
certo, seguro, definitivo. Como escola filosófica derivou do ‘cientificismo’,
isto é, da crença no poder dominante e absoluto da razão humana em conhecer a
realidade e traduzi-la sob a forma de leis que seriam a base da regulamentação
da vida do homem, da natureza e do próprio universo. Com este conhecimento
pretendia-se substituir as explanações teológicas, filosóficas e de senso comum
por meio das quais – até então – o homem explicara a realidade e sua
participação nela”.
Segundo o sociólogo Anthony Giddens, o
tema central de Auguste Comte é a necessidade de conciliar a ordem
com o progresso. Isso devido a sua disputa intelectual com duas
corrente distintas de pensamento social: os Metafísicos Revolucionários
(1789) e a Escola Retrógrada (conservadorismo católico).
Os pensadores da corrente Metafísica
Revolucionária lutavam pelo progresso, mas à custa de ordem,
isso é, embora a sociedade estivesse em caos o mais importante era o progresso,
o afastamento total do Antigo Regime (monarquia-feudal). Por sua vez, a
corrente da Escola Retrógrada lutava pela ordem, sem desejar o progresso,
isso porque desejava o retorno da ordem feudal, ao modelo de hierarquia
estamental e ter novamente poder.
Entretanto o tipo de sociedade prevista
por Comte com a garantia de ambos, ordem e progresso, dava grande
importância às características constantes dos trabalhos da “escola retrograda”,
isso porque esse grupo defendia os valores que Comte entendia como importantes
para o estabelecimento e manutenção da ordem – senso moral, autoridade,
compreensão favorável a desigualdade, sem, contudo, se relacionar com o
catolicismo.
A sociologia de Comte apresenta dois
elementos fundamentais: a doutrina dos três estados e o Estático e Dinâmico. A
doutrina dos três estados refere-se a “descoberta” da lei do desenvolvimento da
mente humana, ou seja, o processo evolutivo do ser humano caracterizado por
três estados/estágios: 1º Teológico;
2º Metafísico; 3º Positivo/científico.
Segundo Simon, a Lei dos três estados é
fundamental ao pensamento de Comte e afirma que “o espírito dos indivíduos,
assim como a espécie humana e as próprias ciências descrevem um movimento
histórico que atravessa um estado
teológico – no qual o espírito humano acredita que os fenômenos são
explicados pela ação de agentes sobrenaturais –, um estado metafísico – no qual os agentes sobrenaturais são
substituídos por forças abstratas como explicação dos fenômenos – e finalmente
atinge, por necessidade histórica, o estado
positivo. É somente nesse terceiro estado que se realiza o verdadeiro
espírito científico, o qual se limita à observação dos fatos, a raciocinar
sobre eles e a procurar suas relações invariáveis, quer dizer, suas leis.
Para Comte, as sociedades possuíam
aspectos que ele denominou Estático e Dinâmico. Estes estão
relacionados à ordem e ao progresso. O aspecto Estático está relacionado
ao que Comte entendia por fatores que deveriam permanecer nas sociedades como
mecanismos integralizadores, ou seja, instituições
moralizadoras e estruturantes da sociedade. Dessa forma o aspecto Estático
está diretamente relacionado à ordem.
Por sua vez, o aspecto Dinâmico é
natural e necessário a toda e qualquer cultura, este se relaciona ao progresso.
Progresso desde o ponto de vista da intelectualidade, as leis dos três estados,
ao progresso produtivo propriamente dito. Portanto, para Comte a sociedade
Européia Capitalista com produção industrial (civilizada) e a ciência se
estabelecendo como dominadora de toda a verdade é o modelo máximo para toda e
qualquer cultura, reproduzindo o eurocentrismo.
Estático: estuda a
harmonia prevalecente entre as diversas condições de existência, o qual
estabelece a Ordem.
Dinâmico: investiga o
desenvolvimento ordenado da sociedade e estabelece as leis do Progresso.
Segundo Simon, Comte afirma que há um
desenvolvimento histórico da sociedade, um progresso da evolução humana, um
progresso, entretanto, que em momento algum antecede a ordem ou carrega em si a
possibilidade de alterar os elementos estáticos da sociedade. Sem ordem não há
progresso, que não é senão o desenvolvimento da própria ordem. Para Comte, portanto,
há complementaridade entre ordem e
progresso e sua proposta será um resumo dessas duas ideias visando
restaurar a unidade social. Uma das ideias-chave do positivismo será: “O amor por princípio, a ordem por base e o
progresso por fim”.
A implicação de subordinar o progresso a
ordem está no fato de que esse modelo de sociedade é uma continuidade da
estrutura de dominação. Ou seja, as instituições
sociais devem ser mantidas e altamente consideradas para que estas consigam
“formatar” as consciências e assim, manter a harmonia social. Manter a Ordem significa acalmar as revoltas
sociais, legítimas ou não, em nome do Progresso,
e nesse caso, o progresso do capitalismo. Dessa maneira, qualquer
reinvindicação que tenha, pelo menos, aparência de revolta deve ser contida
pela força militar, já que a religião e outras instituições sociais não têm
cumprido bem seu papel, com isso chegamos a outra conclusão do pensamento
positivista de Comte. Os problemas sociais não são resultados
das desigualdades socializou pela má distribuição de renda, mas sim pelo enfraquecimento das
instituições sociais.
Ordem e progresso é o lema da
bandeira brasileira, isso porque o positivismo ganhou expressividade a partir
de 1870 influenciando na política nacional. Simon nos esclarece que a variedade
e os modos de adesão ao calendário filosófico-religioso de Comte dividem os
positivistas. Os religiosos ortodoxos, seguidores fiéis da doutrina como um
todo representado principalmente por Miguel Lemos e Teixeira Mendes (fundadores
da primeira Igreja Positivista do Brasil, no Rio de Janeiro), e os heterodoxos,
que aceitavam apenas a parte filosófico-científica da obra de Comte, como Luiz
Pereira Barreto, Alberto Sales, Benjamin Constant, entre outros. E, pode-se
falar ainda de um positivismo político que se situou basicamente no Rio Grande
do Sul, sob a liderança de Júlio de Castilhos, mas que orientou a ação política
de setores militares e civis da pequena burguesia em outros pontos do país.
Os positivistas participaram do
movimento pela Proclamação da República, em 1889, e na Constituição de 1891, e
por sua influência a Bandeira brasileira passou a ostentar o lema clássico do
positivismo.
Texto da primeira aula. Lê-lo e pô-lo no caderno, além de apresentar breve resumo na próxima aula, sem copiar partes do texto. Tudo isso no caderno de vocês.
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