Durkeheim e o fato social
Por Paulo
Silvino Ribeiro
Ao final do século
XIX, no período de formação da Sociologia enquanto ciência, Émile Durkheim
preocupava-se em criar regras para o método sociológico, garantindo-lhe um
status de saber científico, assim como as demais áreas do conhecimento, a
exemplo da biologia, da química, entre outras. Contudo, tão importante quanto
definir o método era definir o objeto de estudo. Assim, segundo Durkheim, à
sociologia caberia estudar somente os “fatos sociais”, e estes consistiriam em
maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo, dotadas de um
poder de coerção sobre este mesmo indivíduo.
As respostas para
nossa organização social estariam nos fatos sociais e para isso seria
necessária a aplicação de um método para os compreendermos melhor enquanto
objeto sociológico, devendo ser vistos como se fossem “coisas”, como se fossem
objetos passíveis de análise, assim como a biologia se debruça sobre uma
planta. Para ele, o homem naturalmente cria falsas noções do que são as coisas
que o rodeiam, mas não é através da criação de ideias que se chegará à
realidade. Para Durkheim, deve-se propor a investigação dos fatos para buscar
as verdadeiras leis naturais que regem o funcionamento e a existência destes,
pois possuem existência própria e são externos em relação às consciências
individuais.
Em sua obra
intitulada As regras do método sociológico, de 1895, Durkheim afirma
que “espera ter definido exatamente o domínio da sociologia, domínio esse que
só compreende um determinado grupo de fenômenos. Um fato social reconhece-se
pelo seu poder de coação externa que exerce ou é suscetível de exercer sobre os
indivíduos; e a presença desse poder reconhece-se, por sua vez, pela existência
de uma sanção determinada ou pela resistência que o fato opõe a qualquer
iniciativa individual que tenda a violentá-lo [...]. É um fato social toda a
maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma
coação exterior, ou ainda, que é geral no conjunto de uma dada sociedade tendo,
ao mesmo tempo, uma existência própria, independente das suas manifestações
individuais”. Os fatos sociais dariam o tom da ordem social, sendo construídos
pela soma das consciências individuais de todos os homens e, ao mesmo tempo,
influenciam cada uma.
O importante é a
realidade objetiva dos fatos sociais, os quais têm como característica a
exterioridade em relação às consciências individuais e exercem ação coercitiva
sobre estas. Mas uma pergunta se coloca: de onde vem esta ação coercitiva?
Pensemos em nossa sociedade atual. Fomos criados, por nossos pais e pela
sociedade, com a ideia de que não podemos, em um restaurante, virar o prato de
sopa e beber de uma só vez, pois certamente as pessoas vão rir ou talvez achar
um tanto quanto estranho, já que existem talheres para se tomar sopa. Não
existem leis escritas que impeçam quem quer que seja de virar o prato de sopa,
segurando-o com as duas mãos para beber rapidamente. No entanto, a grande
maioria das pessoas se sentiria proibida de praticar isso. Da mesma forma, por
que quando trabalhamos em um escritório ou algum lugar formal os homens estão
de terno e não de pijamas? Isso é a ação coercitiva do fato social, é o que nos
impede ou nos autoriza a praticar algo, por exercer uma pressão em nossa
consciência, dizendo o que se pode ou não fazer.
Se um indivíduo
experimentar opor-se a uma dessas manifestações coercitivas, os sentimentos que
nega (por exemplo, o repúdio do público por um homem de terno rosa)
voltar-se-ão contra ele. Em outras palavras, somos vítimas daquilo que vem do
exterior. Assim, os fatos sociais são produtos da vida em sociedade, e sua
manifestação é o que interessa a Sociologia.
Texto para a segunda aula. Lê-lo e colá-lo no caderno e, após isso, apresentar um breve resumo do mesmo na aula em que trabalharmos este assunto.
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