indústria cultural:
introdução
Por Ana Lucia Santana
A expressão ‘cultura
de massa’, posteriormente trocada por ‘indústria cultural’,
é aquela criada com um objetivo específico, atingir a massa popular, maioria no
interior de uma população, transcendendo, assim, toda e qualquer distinção de
natureza social, étnica, etária, sexual ou psíquica. Todo esse conteúdo é
disseminado por meio dos veículos de comunicação de massa.
Os filósofos
alemães, integrantes da Escola de Frankfurt
– Theodor W. Adorno e Max Horkheimer -, foram os responsáveis pela criação do
termo ‘Indústria Cultural’. Eles anteviam a forma negativa como a recém-criada
mídia seria utilizada durante a Segunda Guerra Mundial.
Aliás, eles eram de etnia judia, portanto sofreram dura perseguição dos nazistas e, para fugir
deste contexto, partiram para os EUA.
Antes do advento
da cultura de massa, havia diversas configurações culturais – a popular, em
contraposição à erudita; a nacional, que entretecia a identidade de uma
população; a cultura no sentido geral, definida como um conglomerado histórico
de valores estéticos e morais; e outras tantas culturas que produziam diversificadas
identidades populares.
Mas, com o
nascimento do século XX e, com ele, dos novos meios de comunicação, estas
modalidades culturais ficaram completamente submergidas sob o domínio da
cultura de massa. Veículos como o cinema, o rádio e a televisão, ganharam
notório destaque e se dedicaram, em grande parte, a homogeneizar os padrões da
cultura.
Como esta cultura
é, na verdade, produto de uma atividade econômica estruturada em larga escala,
de estatura internacional, hoje global, ela está vinculada, inevitavelmente, ao
poderoso capitalismo industrial e financeiro. A serviço deste sistema, ela
oprime incessantemente as demais culturas, valorizando tão somente os gostos
culturais da massa.
Outro importante
pensador contemporâneo, o francês Edgar Morin, define a cultura de massa ou
indústria cultural como uma elaboração do complexo industrial, um produto
definido, padronizado, pronto para o consumo. Mas, ainda conforme este
estudioso, uma industrialização secundária se processa paralelamente, mais
sutil e, portanto, mais ardilosa, a da alma humana, pois ela ocorre nos planos
imagético e onírico.
Esta cultura é
hipnotizante, entorpecente, indutiva. Ela é introjetada no ser humano de tal
forma, que se torna quase inevitável o seu consumo, principalmente se a massa
não tem o seu olhar e a sua sensibilidade educados de forma apropriada, e o
acesso indispensável à multiplicidade cultural e pedagógica. Com este manancial
de recursos, é possível criar modalidades de resistência a essa cultura
impositiva.
Do contrário, com
os apelos desta indústria, personificados principalmente na esfera
publicitária, principalmente aquela que se devota sem pudor ao sensacionalismo,
é quase impossível resistir aos sabores visuais da avalanche de imagens e
símbolos que inundam a mente humana o tempo todo. Este é o motor que move as
engrenagens da indústria cultural e aliena as mentalidades despreparadas.
O conceito de indústria cultural em adorno e
Horkheimer
Por João Francisco Cabral
Apesar de a Indústria Cultural ser
um fator primordial na formação de consciência coletiva nas sociedades
massificadas, nem de longe seus produtos são artísticos. Isso porque esses
produtos não mais representam um tipo de classe (superior ou inferior,
dominantes e dominados), mas são exclusivamente dependentes do mercado.
Essa visão permite compreender de que
forma age a Indústria Cultural. Oferecendo produtos que promovem uma
satisfação compensatória e efêmera, que agrada aos indivíduos, ela impõe-se
sobre estes, submetendo-os a seu monopólio e tornando-os acríticos (já que seus
produtos são adquiridos consensualmente).
Camuflando as forças de classes, a Indústria
Cultural apresenta-se como único poder de dominação e difusão de uma
cultura de subserviência. Ela torna-se o guia que orienta os indivíduos em um
mundo caótico e que por isso desativa, desarticula, qualquer revolta contra seu
sistema. Isso quer dizer que a pseudo felicidade ou satisfação promovida pela Indústria
Cultural acaba por desmobilizar ou impedir qualquer mobilização crítica
que, de alguma forma, fora o papel principal da arte (como no Renascimento, por
exemplo). Ela transforma os indivíduos em seu objeto e não permite a formação
de uma autonomia consciente.
Englobando a sociedade como um todo,
com um pequeno número de evasão, é quase impossível romper com tal sistema
produtivo. Aqueles que se submetem a esse modelo de indústria nada mais fazem
que falar de modo diferente a mesma coisa. Porém, uma certa crítica ainda pode
ser vista naqueles que fomentam um tipo de arte que produz efeitos estéticos
fora da padronização oferecida pela indústria. Mesmo assim, é uma tentativa que
fica à margem do sistema porque não agrada àquelas consciências acostumadas com
um modelo estandardizado.
O próprio Adorno, como um dos
integrantes da Escola de Frankfurt, onde foi desenvolvida a Teoria Crítica,
construiu um tipo de música calculada nos moldes das músicas clássicas e
eruditas, mas com uma melodia aparentemente horripilante aos ouvidos
acostumados aos acordes da música clássica tradicional (leia-se burguesa). Sua
pretensão é justamente desacostumar a percepção daquela noção tradicional de
ordem e harmonia (já que sua música só parece desarmônica, mas na verdade é
totalmente ordenada e arranjada – dodecafônica) prevalecente na cultura
burguesa vigente à época.
Para Adorno e Horkheimer, Indústria
Cultural distingue-se de cultura de massa. Esta é oriunda do povo, das
suas regionalizações, costumes e sem a pretensão de ser comercializada,
enquanto que aquela possui padrões que sempre se repetem com a finalidade de
formar uma estética ou percepção comum voltada ao consumismo. E embora a arte
clássica, erudita, também pudesse ser distinta da popular e da comercial, sua
origem não tem uma primeira intenção de ser comercializada e nem surge
espontaneamente, mas é trabalhada tecnicamente e possui uma originalidade
incomum – depois pode ser estandardizada, reproduzida e comercializada segundo
os interesses da Indústria Cultural.
Assim, segundo a visão desses autores,
é praticamente impossível fugir desse modelo, mas deveríamos buscar fontes
alternativas de arte e de produção cultural, que, ainda que sejam utilizadas
pela indústria, promovessem o mínimo de conscientização possível.
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