As teorias dos movimentos sociais
Por Angela
Alonso
As
lágrimas de Jesse Jackson no anúncio da eleição de Barack Obama parecem
encerrar o ciclo das grandes mobilizações urbanas da segunda metade do século
XX. Movimentos sociais, como o pelos direitos civis, de que Jackson foi parte, o
feminista e o ambientalista lograram inscrever demandas suas na agenda
contemporânea; suas organizações civis se profissionalizaram e muitos de seus
ativistas se converteram em autoridades políticas. Essa rotinização do ativismo
anda em par, nesse começo de século, com novidades. As mobilizações coletivas
ganharam escala global, caráter violento e se concentraram em bandeiras
identitárias, compelindo os teóricos a rever suas interpretações.
É
que as teorias dos movimentos sociais se constituíram diante de um quadro bastante
distinto, o do Ocidente dos anos 1960, quando o próprio termo “movimentos
sociais” foi cunhado para designar multidões bradando por mudanças pacíficas
(“faça amor, não faça guerra”), desinteressadas do poder do Estado. Até então
concentrados em pensar revoluções – ou a ausência delas –, os sociólogos
produziram três grandes famílias de explicação para os movimentos sociais. Este
artigo apresenta essas teorias, apontando, em seguida, as adaptações a que
tiveram de se submeter para fazer face à cena contemporânea.
A era clássica das teorias dos movimentos sociais
Dos
anos 1930 a 1960, a sociologia lançou baldes de água fria nas teorias da
revolução. Autores muito heterogêneos, como Riesman e Adorno, por exemplo,
confluíram para teorias da desmobilização política, cuja chave explicativa estava
na cultura, em correlações entre estrutura da personalidade e estrutura da sociedade.
O argumento disseminado era que o individualismo exacerbado da sociedade moderna
teria produzido personalidades narcísicas, voltadas para a autossatisfação e de
costas para a política. Dado o caráter cômodo da dominação no capitalismo
tardio ou na sociedade de massa, operada via consumo e afinada com o padrão
dominante de individuação, a mobilização coletiva eclodiria apenas como irracionalidade
ou, conforme Smelser, como explosão reativa de frustrações individuais, que as
instituições momentaneamente não lograriam canalizar. De uma maneira ou de
outra, a explicação tinha pilares psicossociais, amparando-se em emoções
coletivas, e tom sombrio, ressoando o contexto de avanço dos regimes totalitários.
A
tese da desmobilização, contudo, foi posta à prova pela mudança de cenário. Nos
anos 1960, tanto na Europa, sede do totalitarismo, quanto nos Estados Unidos,
afinal a pátria da sociedade de massas, ressurgiram mobilizações. Alguns
teóricos da revolução ainda as saudaram como retorno do movimento operário,
mas, logo se viu, elas eram bastante peculiares. Não se baseavam em classe, mas
sobretudo em etnia (o movimento pelos direitos civis), gênero (o feminismo) e
estilo de vida (o pacificismo e o ambienta-lismo), para ficar nos mais
proeminentes. Tampouco visavam a revolução política, no sentido da tomada do
poder de Estado. Não eram reações irracionais de indivíduos isolados, mas
movimentação concatenada, solidária e ordeira de milhares de pessoas. Então não
cabiam bem em nenhum dos dois grandes sistemas teóricos do século XX, o
marxismo e o funcionalismo.
A
ruptura está no próprio nome que o fenômeno ganhou. Tratava-se seguramente de
“movimentos”, no sentido de ações coordenadas de mesmo sentido acontecendo fora
das instituições políticas, mas não eram, de modo algum, protagonizadas por mobs,
tampouco por “proletários”. Eram jovens, mulheres, estudantes, profissionais
liberais, sobretudo de classe média, empunhando bandeiras em princípio também
novas: não mais voltadas para as condições de vida, ou para a redistribuição
de recursos, mas para a qualidade de vida, e para afirmação da
diversidade de estilos de vivê-la. Essas demandas “pós-materiais”, como as
chamou Inglehart (1971), se completavam com a opção por formas diretas de ação
política e pela demanda por mudanças paulatinas na sociabilidade e na cultura,
a serem logradas pela persuasão, isto é, léguas longe da ideia de tomada do
poder de Estado por revolução armada. Então eram, sim, movimentos, mas
movimentos sociais.
Texto da aula passada. Lê-lo e colá-lo no caderno, apresentando breve resumo sobre a compreensão do mesmo, que será visto na próxima aula.
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